O Renascimento em Portugal estende-se de meados do século XV a finais do século XVI. O Renascimento português, para além do seu cunho próprio, nasce, principalmente em termos artísticos, da mistura do estilo gótico final com as inovações do século XV.
A subida ao trono do Mestre de Avis marca o início de uma nova época em Portugal. Novas perspectivas na evolução social, económica, política e cultural estavam em curso e marcariam o início de um novo período histórico, cultural e artístico que irá caracterizar o Renascimento em Portugal. Intensificaram-se os contactos com a Europa, o que proporcionou a Portugal receber as maiores influências dos diversos centros renascentistas da Europa, como era o caso da Itália e da Flandres, que viriam a contribuir para a consolidação dos ideais renascentistas no País.
Por sua vez, a descoberta de novos mundos e o contacto com outras civilizações levaram a uma miscigenação cultural que se reflectiria, essencialmente, na arte. O contacto com as civilizações de África e do Oriente levou à importação de numerosos objectos de cerâmica, têxteis e mobiliário, de madeiras preciosas, marfim ou seda que, por seu turno, levaram ao surgimento de novas formas artísticas resultantes dos intercâmbios culturais entre a Europa, a África e o Oriente, através dos portugueses.
Os Descobrimentos desempenharam um papel muito importante na definição do Portugal renascentista. A base da economia portuguesa continuava a assentar na agricultura, extracção de sal, pesca, nas actividades que favoreciam as exportações de vinho, azeite, fruta, mel, sal, cortiça e madeira. A estes produtos juntam-se o comércio de novos produtos como o açúcar, o ouro, a malagueta, o marfim e, mais tarde, as especiarias orientais, pérolas, sedas, entre outros.
A intensificação do comércio levou, por sua vez, ao aparecimento de uma nova classe - a burguesia comercial - possuidora de uma avultada soma de capitais e a qual viria a desempenhar um importante papel no Ultramar e na Europa, concorrendo ao lado dos mercadores estrangeiros. Portugal tornou-se, assim, a ponte de ligação entre a Europa e a África, o Oriente e o Brasil, divulgando deste modo novos hábitos e costumes.
O Renascimento português dir-se-ia caracterizado por um cosmopolitismo com duas vertentes, uma europeia e outra ultramarina. Cada vez mais portugueses frequentavam os grandes centros universitários europeus, pólos importantes dos novos ideais humanistas, nomeadamente os de Itália, Espanha e França. Paralelamente, assiste-se a uma presença constante de artistas italianos, flamengos e franceses a trabalharem no nosso país. É também nesta altura que obras de autores portugueses são com mais frequência impressas no estrangeiro. Graças aos estudos dos portugueses nas universidades estrangeiras, a fisionomia das escolas, e, consequentemente, a cultura da nação portuguesa, foi-se alterando, influenciando fortemente as universidades de Coimbra, Lisboa e Évora, a administração civil e religiosa, os centros culturais (quase exclusivamente em Lisboa) da província e até do Ultramar, especialmente em Goa.
A afluência de estudantes portugueses às grandes cidades europeias coincide com a dispersão e fixação de outros portugueses como é o caso dos soldados ou dos religiosos, no Ultramar, ocupando as cidades fortificadas no Norte de África, colonizando a Ilha da Madeira e os Açores ou percorrendo a costa africana, comerciando, evangelizando e fixando-se na Índia, na China, Malaca, Japão ou no Brasil. A própria língua virá a sofrer a influência destes contactos transoceânicos dos portugueses, particularmente com a introdução das terminologias autóctones das regiões além-mar, algumas delas persistindo ainda nos dias de hoje.
A própria arte (escultura, pintura, arquitectura, iluminura, ourivesaria, porcelanas, mobiliário, tapeçarias) reflecte estes contactos através do mar, da naútica, dos povos, da fauna e da flora exóticas, etc. A arquitectura desta época assume um cunho muito nacional: o manuelino. Os antecedentes da arquitectura dita manuelina remontam ao movimento de renovação que ocorre no país desde o início da expansão primeiro no Norte de África e depois para o Atlântico Central e Sul. O resultado destas missões, destes descobrimentos, o crescente gosto pelo exotismo devido ao contacto com novos povos e civilizações levaram os senhores, laicos ou eclesiásticos, a remodelar as suas construções, dotando-as de uma nova expressividade, mais exuberante e original.
Para se entender o manuelino, temos de ter em conta que no século XV houve em Portugal dois tipos de gótico: um tradicionalista e outro flamejante. Portugal não foi, todavia, uma excepção ao manter as estruturas góticas durante o século XVI cobertas ou não pela vegetação luxuriante do manuelino. O manuelino é, pois, um tipo decorativo que surge em Portugal nos finais do século XV e inícios do século XVI, durante o reinado de D. Manuel I (1496-1521) e que atinge o seu apogeu nesta época. Por isso, essa variante gótica nacional recebe a designação de manuelino. Para além da arquitectura, aparece toda uma espécie de obras de carácter mais técnico e ligadas à gesta dos Descobrimentos, como as cartas, mapas-mundo, globos, planisférios e literatura relacionada com o Ultramar, onde constam tratados sobre a arte de navegar, roteiros, relatórios de naufrágios, itinerários, crónicas, tratados de medicina tropical, etc.
As obras referentes ao Ultramar imprimidas em Portugal estão entre as mais procuradas na Europa da altura, sendo traduzidas em várias línguas. O aparecimento de uma nova literatura e o aperfeiçoamento da ciência naútica, para além da própria experiência de vida dos portugueses, no que respeita à epopeia dos Descobrimentos, constitui um dos pilares socio-culturais do Renascimento português. Portugal acaba por influenciar, também, através das suas publicações, toda a Europa, ao mesmo tempo que recebe a influência do Humanismo patente nestes centros, dando origem a uma atitude crítica com base na experiência ou na observação directa dos factos, desmistificando algumas lendas medievais.
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